segunda-feira, 29 de janeiro de 2018

Língua - Caetano Veloso




Gosto de sentir a minha língua roçar a língua de Luís de Camões
Gosto de ser e de estar
E quero me dedicar a criar confusões de prosódias
E uma profusão de paródias
Que encurtem dores
E furtem cores como camaleões
Gosto do Pessoa na pessoa
Da rosa no Rosa
E sei que a poesia está para a prosa
Assim como o amor está para a amizade
E quem há de negar que esta lhe é superior?
E deixe os Portugais morrerem à míngua
Minha pátria é minha língua
Fala Mangueira! Fala!
Flor do Lácio Sambódromo Lusamérica latim em pó
O que quer
O que pode esta língua?
Vamos atentar para a sintaxe dos paulistas
E o falso inglês relax dos surfistas
Sejamos imperialistas! Cadê? Sejamos imperialistas!
Vamos na velô da dicção choo-choo de Carmem Miranda
E que o Chico Buarque de Holanda nos resgate
E (xeque-mate) explique-nos Luanda
Ouçamos com atenção os deles e os delas da TV Globo
Sejamos o lobo do lobo do homem
Lobo do lobo do lobo do homem
Adoro nomes
Nomes em ã
De coisas como rã e ímã
Ímã ímã ímã ímã ímã ímã ímã ímã
Nomes de nomes
Como Scarlet, Moon, de Chevalier, Glauco Mattoso e Arrigo Barnabé
e Maria da Fé
Flor do Lácio Sambódromo Lusamérica latim em pó
O que quer
O que pode esta língua?
Se você tem uma idéia incrível é melhor fazer uma canção
Está provado que só é possível filosofar em alemão
Blitz quer dizer corisco
Hollywood quer dizer Azevedo
E o Recôncavo, e o Recôncavo, e o Recôncavo meu medo
A língua é minha pátria
E eu não tenho pátria, tenho mátria
E quero frátria
Poesia concreta, prosa caótica
Ótica futura
Samba-rap, chic-left com banana
(Será que ele está no Pão de Açúcar?
Tá craude brô
Você e tu
Lhe amo
Qué queu te faço, nego?
Bote ligeiro!
Ma'de brinquinho, Ricardo!? Teu tio vai ficar desesperado!
Ó Tavinho, põe camisola pra dentro, assim mais pareces um espantalho!
I like to spend some time in Mozambique
Arigatô, arigatô!)
Nós canto-falamos como quem inveja negros
Que sofrem horrores no Gueto do Harlem
Livros, discos, vídeos à mancheia
E deixa que digam, que pensem, que falem

Soneto Língua Portuguesa - Olavo Bilac


Última flor do Lácio, inculta e bela,
És, a um tempo, esplendor e sepultura:
Ouro nativo, que na ganga impura
A bruta mina entre os cascalhos vela...

Amo-te assim, desconhecida e obscura.
Tuba de alto clangor, lira singela,
Que tens o trom e o silvo da procela,
E o arrolo da saudade e da ternura!

Amo o teu viço agreste e o teu aroma
De virgens selvas e de oceano largo!
Amo-te, ó rude e doloroso idioma,

Em que da voz materna ouvi: "meu filho!",
E em que Camões chorou, no exílio amargo,
O gênio sem ventura e o amor sem brilho!

sábado, 27 de janeiro de 2018

Construindo o amor

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Compartilhar amor exprime a grandeza da alma e emoções, esquecendo-se dos medos, entraves e preconceitos. 
O verdadeiro amor não julga, não é possessivo, não restringe a liberdade do outro, mas ama incondicionalmente, cheio de intenções sadias.
Amar é partilhar momentos de alegrias e tristezas, acolher, proteger, acarinhar, dividir, somar e contabilizar conquistas conjuntas. É vencer, mesmo quando se perde. Pois quem tem a capacidade de amar e praticar o amor, nunca perde. Sempre ganha, porque o amor nos constrói e reconstrói no cotidiano. 

terça-feira, 9 de janeiro de 2018


O Florescer de Setembro





Amanhece. No céu, nuvens se esparramam docemente como flocos de algodão. Rajadas avermelhadas dão ao alvorecer pálido uma corzinha de festa ao céu.

Em setembro, a temperatura amena nos permite ficar mais à vontade, sem precisarmos de toneladas de roupas pesando nossos passos. Os dias se tornam mais agradáveis, e as pessoas, tocadas pelo ar primaveril, se sentem mais felizes e leves.

Os pássaros ensaiam a cantoria, o prenúncio de um alvorecer tranquilo. Tímido, o sol vai surgindo secando as gotas de orvalho sobre as folhas. A natureza desponta, vestindo-se de verde para a majestade.

Muitas vezes, deixamos de perceber detalhes encantadores, ainda que comuns. A manifestação da vida, em minuciosos detalhes, quando percebidos e sentidos impressionam pela perfeição.

É lindo quando setembro floresce.


                                                               Iara Ladvig