No começo, somos
apenas uma existência singular na descoberta do mundo, literalmente caindo e
levantando-se, engatinhando e aprendendo a andar, e a descobrir em seus
pormenores, todo o enredo de uma história fantástica: A VIDA.
Extrapolando o
lúdico, as fantasias e saboreando-as na textura delicada, uma criança cresce
“apreendendo” tudo a sua volta. Vai registrando os fatos, fotografando-os em
sua mente curiosa, como flashback
de situações inesquecíveis, lépidas, inóspitas..., e vai montando um
quebra-cabeça que facilmente vai se encaixando, à medida que vai tomando
conhecimento de formas, cores, dimensão e consequentemente, elaborando sua
trajetória.
Através do
contato tão particular entre o mundo imaginário e real, vai expressando seus
gostos e preferências, e estabelecendo pelo tato, paladar, olfato, visão e audição,
uma conexão de informações, e imergindo na percepção, detém a soberania do seu
mundinho.
Constrói suas
verdades, fabrica medos, liberta-se na imaginação, cria seus fantasmas, adota
mimos como pedrinhas, flores, chupetas, travesseiros, objetos obsoletos como um
talismã. Agarra-se neles para fugir do temido “bicho papão” ou o “velho do
saco”. (Quem já não teve um travesseiro com penas de ganso na infância?). Tão
fofinho e indivisível.
A criança vai
criando seus mitos, e adotando uma postura de respeito e medo para com eles.
Muitas vezes, zomba, ri, mas corre de medo do desconhecido. Esta é a beleza
reverenciada na infância, a pureza da alma, ainda não contaminada com os
“ditames” impuros das chagas do caráter.
Na infância
somos protagonistas de nossas próprias histórias: de princesas, dragões,
cavalheiros e fadas. Isto faz com que tenhamos capacidade para elaborar dentro
do processo de desenvolvimento biopsicossocial, a própria identidade,
continuando a ser o protagonista na realidade, com o livre-arbítrio para fazer
escolhas e enfrentar os bichos papões que porventura apareçam.
A formação do
caráter está ligada à herança genética e a personalidade, capacidade individual
que trazemos conosco de conseguirmos perceber a vida, com limites a serem
administrados de uma forma que não venham a prejudicar os outros, em uma
conotação sadia de desenvolvimento psicológico e social. Saímos então da
singularidade para “apreendermos” a capacidade de convivência mútua, ou seja,
viver na pluralidade de gostos e escolhas, sabendo respeitar também, as
escolhas e decisões alheias. Este processo inicia-se na infância, e precisa ser
bem trabalhado e observado pelos pais e educadores, para que a criança consiga
resolver suas dificuldades de convivência social já na tenra idade. Assim
inicia o desenvolvimento das habilidades pessoais, aprofundadas no âmago do bom
senso e usadas como limitadores do certo e errado nas ações, favorecendo as
mudanças de atitudes e facilitando a condução sadia das relações sociais em
todos os âmbitos: consigo mesmo, pais, filhos, cônjuge, amigos e profissionalmente,
tendo um bom domínio existencial.
O indivíduo se
conhece na singularidade, conseguindo ter percepção de si mesmo, se estiver
apto para fazer a leitura da sua história, e deixar-se ver no espelho íntimo
quem realmente é. Admitindo-se em qualidades e defeitos, buscando melhorar a
qualidade de seus pensamentos, palavras e ações. Estes são os primeiros passos
para conseguir um “entendimento” do eu e modificar-se na íntegra, ou seja, por
inteiro. Mesmo que a modificação seja de uma forma fracionada, aos poucos, o
importante é que um dia, ela consiga a ser “plena” em todas as questões pertinentes
que necessitem serem modificadas.
E no teatro da
vida, arena das emoções, dar aquele “Show de QE” nas agruras cotidianas,
naqueles momentos que as pessoas acham que Deus os esqueceu. Esquecem que Deus
não os esquece. Mas nos permite lembrar, mesmo contraditoriamente, que
esquecemos de desatar nossos nós íntimos que nos fazem “melindrosos” para
viver, e egoisticamente nos tornamos omissos a nós mesmos. Perdemos a
cumplicidade conosco, para modificar a forma de percebermos a realidade, sem
confrontá-la com os desejos íntimos, muitas vezes, “subversivos” e aquém as
expectativas de crescimento interior, do uso do bom senso, do amadurecimento
emocional e espiritual.
Somos dotados de
inteligência qualitativa, por que não usá-la? O valor imensurável desta
“energia vital” das emoções é que nos permite transformá-la em “qualidade de
vida”, extraindo a mais pura essência da nossa alma, conduzindo a busca
equilibrada das inspirações e objetivos, sabendo dosá-los em meio de
infortúnios, afinal a vida é isto, intempéries. O tempo muda de repente, horas
de sol, momentos de tempestade. E, às vezes, nubla, e te faz repensar, em tudo
de novo! Recomeço. Todo dia é dia de recomeçar.
Vamos abrir uma
caixa de “esperanças”, conscientes de que somos privilegiados para construirmos
de forma altruísta e equilibrada, dias melhores, sem nos preocuparmos em
demasia com o futuro, mas vivermos plenamente o nosso presente e estarmos
dispostos a fazer a diferença em pensamentos, palavras e ações, executando-as
plenamente, de bem com a VIDA.
A VIDA é um
tesouro, que nos proporciona uma escola, aprendizado constante. São muitas
descobertas, porém devemos evitar abrir todos os “baús” que nos apresentam, a
fim de que, na curiosidade e inconsequência, deixemos nos envolver por coisas
que não nos acrescentam, mas definham as emoções e fazem adoecer a alma.
Pessoas e situações em declínio, onde há ruína de bons sentimentos, sensatez,
amor, amizade, bondade... Vazias.
Ser sábios,
prudentes, cautelosos faz parte de uma longa jornada, uma lição que devemos
aprender na infância e jamais esquecê-la, pois poderá nos custar um infortúnio,
por isso, estar sempre atento com quem se escolhe para ser parceiro (a) de
jornada. Isto é válido em todos os sentidos: na amizade, amor e na profissão.
Freud já dizia: “O caráter de um homem é formado pelas pessoas que escolheu para
conviver”.
Vamos abrir
nossas “caixinhas”, que são as diversas situações que a vida nos apresenta,
sempre com bom senso, a fim que não tenhamos nossa retina ofuscada por um falso
brilho.
Apreender
as situações com um “olhar desperto”, pés no chão, e percebermos o que é melhor
para nós, sempre distinguindo o bem do mal, vislumbrar a realidade tal como ela
é, sem deixar-se engolir por devaneios, ilusão ou pelos subterfúgios da
carência afetiva.
Iara
Ladvig