Comprometa-se consigo mesmo: Viva a vida plenamente! Que 2015 represente uma mudança significativa em todos os aspectos existenciais e que possas desfrutar da "vida" de maneira intensa e VERDADEIRA. Seja você mesmo!
quarta-feira, 31 de dezembro de 2014
quinta-feira, 16 de outubro de 2014
O Tempo Ensina
O tempo, ao passar, vai mostrando e ensinando
verdades. Algumas são evidentes, não tem como não querer enxergar.
Outras, preferimos ignorar, pois nos deixa seguros. E tem aquelas que fingimos
não ver, e lá no fundo, incomoda. Talvez assim, nos enganando, é mais fácil
contornar a dor de um relacionamento frustrado.
Procuramos
várias respostas aos infortúnios, até mesmo, tentativa de nos sabotar de alguma
forma, com a esperança de encontrarmos lá no fim do túnel, um belo arco-íris
para colorir a vida.
O erro não está no outro, mas na forma como
percebemos a realidade a nossa volta, como desejamos ser felizes a qualquer
preço. Às vezes, o bom é não criar expectativa alguma, nos entretermos com as
possibilidades do momento, e em algum instante, quando estivermos bem
distraídos, encontrarmos alguém que nos faça feliz de verdade.
Lembre-se,
viver é isso, adquirir sabedoria para vivermos cada vez melhor. E com a
maturidade emocional, conquistamos, a cada dia, inúmeras oportunidades. Viver
melhor, não significa somente "ter", mas "ser" alguém que
se faça feliz, acima de tudo. Portanto, ame-se!
Iara Ladvig
Iara Ladvig
terça-feira, 14 de outubro de 2014
sexta-feira, 10 de outubro de 2014
Atracadouro de Lembranças
E, de repente,
ancorei num atracadouro de lembranças, aquelas que não conseguimos sublimar e
esquecer facilmente, que ficam por trás da retina, escondidas em algum refúgio,
paraíso de emoções náufragas, a espera de serem salvas.
terça-feira, 7 de outubro de 2014
segunda-feira, 6 de outubro de 2014
ATA-ME
Manhã
primaveril
Odor da
inflorescência
Exala o jardim da alma
Florescido
de emoções
Chegaram para ficar
A paixão despediu-se
Deixando
lembranças gostosas
Experimento
diário em fatias
Ante as
explosões da carne
Efervescência
arrebatadora
Agitando os desejos
As
palavras que acalentam
O calor do abraço
A ternura que afaga,
Ata-me.
POESIA
Calado observas
Na inquietude saboreia
As descobertas que vai fazendo.
Debruçado na escrivania
Com a pena rabiscas
Leve, voa entre os dedos.
Cheios de histórias para contar
Aquelas que a
imaginação conta
Sem hora certa para chegar.
Quando desperta, não faz alarde
Na explosão de letras
Que saem involuntárias.
São sentimentos impontuáveis
Desejosos e febris
Tem sede de cor, alma e luz.
Mesmo as intempéries que assolam
o dia
Tempestade ou relampejar
A névoa intrusa e cálida.
Os sinais da natureza inspiram o
poeta
Seduzem com o inusitado
Admiram os olhos insaciáveis
Quando a poesia regressa
No papel desfaz-se inteira,
A poesia.
sexta-feira, 3 de outubro de 2014
Centro Cultural La Sebastiana
Quadro fotografado dentro do Museu La Sebastiana, onde aparece Neruda (ao fundo) com Matilde (esposa).
Área externa do Museu.
La Sebastiana
Não foi permitido fazer fotografias internas da casa.
O interior é um sonho. Casa de conto de fadas, atípica, recheada de histórias pessoais, cumplicidade do casal, a própria poesia. Enfim, a pátria poética que inspiravam doces e inquietantes poesias. Lembrando que Neruda tinha três casas: La Sebastiana, Isla Negra e La Chascona.
Los Ojos de Neruda
La Sebastiana
Valparaíso - Chile
Queria ser por alguns instantes
Os olhos de Neruda
A passearem argutos pela paisagem enamorada
Do alto do refúgio “La
Sebastiana”
Onde habitava com a amada Matilde.
Pudera eu, tocar com seus olhos, o intocável
Que uma simples alma da plebe literária ousaria
Poder sentir o refinado escutar
Das ondas quebrando nas pedras das suas dúvidas
Indubitáveis, doces tormentos.
E quando a maré chegasse
Rolaria pela areia, desapegada d’alma
Já embrulhada na seda do refinar poético
Analisaria com olhos sôfregos
Para vestir a lisonja.
No esconderijo do recanto
Desfolhar-me, como um bem-me-quer
Cantar-me um solo de letras
Descrever em sonetos a ousadia
A admiração da plebeia pelo o rei.
Poeta imortal partiu em sua nau
Deixando saudades nos recantos
Habitadas por eternas lembranças
Partida de muitos retornos
A qual a alma não cansa, regressa.
quarta-feira, 1 de outubro de 2014
Suave Despertar
No leito dos sonhos
Durmo
tranquila
Na
esperança do amanhã
A
alegria do despertar.
Ao
resplandecer da aurora,
Ouço
a sinfonia dos pássaros
Gorjeando
a felicidade
No
beiral da janela.
Insisto
no sonho
De
ser um pássaro
Adornar
os lírios,
Como
um beija-flor.
Delicado,
voa
A
beijar as flores
Sugar
o néctar
O
precioso mel.
Mimosura
adorna
Os
quintais da vida
Aprecia
silencioso
A
beleza cálida.
Voa,
voa,
Volta
sempre
Ao
teu recanto
Sonho
de alvorecer.
terça-feira, 23 de setembro de 2014
Flores da Alma
Flores de setembro
Espargem odor da vida
Alegram a face da estação
Transforma-se desinibida.
Flores de todos os meses
Carregamos na vida
No jardim suspenso da alma
Deixando-a colorida.
domingo, 7 de setembro de 2014
sexta-feira, 5 de setembro de 2014
Serelepe
Menina serelepe
Matraqueira
explode
Peraltice
faceira.
Não
perdoa os insossos
De
fala prosa e astuta
Faz
a vida sacudir.
Remexendo
no vespeiro
Da
maldade do Interior
A
mulherada se espanta.
Serelepe,
Deus me acuda!
É
um verdadeiro terror.
Menina
de Juazeiro
Padrinho
Cícero, Sim Senhor!
Valei-me
santinho.
Livrai-nos
desta lampeira
Pimenta
vermelha, porreta!
Ardida,
sacode o sossego.
A menina formosa
Cobiçada pelos Coronéis
Desejo dos peões.
Cabrita,
fere sem dó
A
castidade do sertão
Serelepe
sedutora.
Refrão
Insistes em cantar
O velho refrão
De
uma música de bar.
Antiga
estação
Amigos
de porre
Fartas
mulheres.
Tornou-se
artista
Encenando
mentiras
Em vendaval de cobranças.
Tapas
na cara, rebu de família.
A
taça final, champanhe e meninas.
E
o velho refrão.
Tocado no piano de bar
A letra é verdade.
Viver
e amar são prioridade.
quinta-feira, 10 de julho de 2014
Resposta
Circulo
vicioso
Depressão,
desespero
Falam os olhos
Bocas murmuram aflição
Fogem.
Correram, caíram
Tombaram-se
esperanças
Misérias
de um destino
Bocas
murmuram pragas
Cedem.
Choram
os injustiçados
Politicagem
rolou
Na
ladeira desumana
Bocas
murmuram silêncio
Respondem.
Ambição
Uma estrela brilha no
cosmos
E
nela destinas as ambições
Todas secretas
Sem perder tempo
No espaço concreto
Fabricas a todo instante
O poder capital.
Alienando-te no desejo
Não medes sacrifícios
Deixa-te sucumbir pela
moeda
O detalhe formal do poder
Que compra a ostentação
Corrompe a justiça
Refugiando-se na
hipocrisia.
quarta-feira, 25 de junho de 2014
Mornas Inquietudes
Chove torrencialmente. Na rua transeuntes dispersam-se, o tempo
mudou de humor, esbraveja trovoada. Passageiro temporal lava as ruas, chuva
brava silencia.
Na calçada, uma mulher desce a ladeira, devagar para não cair.
Leva, nas costas, o peso das preocupações impostas pela vida, ao encontro do Boulevard Café, pausa rotineira. Molhada
pela chuva, no balcão faz seu pedido, na saborosa inquietude do desejo de
degustar um café. Engole como se fosse o último, prazer apreciado aos poucos, assim
como inquietudes inevitáveis, entre um e outro gole.
Olhares sutis despertam a cumplicidade. Homens de paladar
apurado saboreiam a admiração. Entre os olhares, insinuante aceno. Um breve olhar
ensaia a resposta do adeus. No Boulevard
Café, o mesmo pedido, diferentes inquietudes, cúmplices olhares e um salutar
café.
Na rua, a chuva silenciara. A mulher retoma o trajeto, com o
fardo mais leve, deixando as preocupações à mercê do destino. O sol aparece
tímido, alguns pássaros cantarolam, ensaiando um fim de tarde poético, de mornas
inquietudes na passarela cotidiana da vida.
terça-feira, 24 de junho de 2014
Sonho de Esperança
Numa manhã de
verão de 1940, Esperança, que então tinha sete anos de idade, avistara o mar
pela primeira vez. Fora um encontro inesquecível, cheio de surpresas
agradáveis.
Sob os cômoros de
areia, trilhava deixando pequenas pegadas. A cabeleira crespa esvoaçava, tocada
pelo vento que soprava forte. Sentada na areia, admirava o mar, mergulhando em
seus mistérios. Um olhar curioso, por trás dos olhos graúdos e negros, que mais
pareciam jabuticabas. Vestia um vestido de chita amarela, e calçava sandálias
de couro, surradas pelo tempo, que mal cabiam em seus pés. Franzina, esboçava
um sorriso meigo que emoldurava o rosto com uma expressão angelical.
A menina
viajara com o pai, em uma de suas viagens costumeiras pelo sertão nordestino,
dentro de um pau-de-arara. Estava sendo levada para morar com os tios na
capital, antes, suplicara para conhecer o oceano. Naquele instante
inesquecível, concretizara um sonho pueril.
Recebera do
mar, uma oferenda, uma grande concha rósea, a qual colocara ao lado do ouvido,
tendo a gostosa sensação de ouvir a sinfonia das ondas.
segunda-feira, 23 de junho de 2014
Uma Carta para Mary John
Virgínia, 1941.
Chove aos cântaros, um aguaceiro
jorra dos céus e deixa a cidade à mercê do mau tempo. Alguns moradores,
assustados, ficam de vigília junto às janelas das casas. Ritualmente, acendem
velas e rezam com um terço em mãos, invocando a proteção divina.
Após estiar a chuva, uma névoa fria
cobre as ruas, sombrias e solitárias, e alastra-se pelo gueto, invadindo as
vielas escuras e tornando-as assustadoras. No cenário entristecido pelo tempo,
um gato preto desafia o perigo, pula de telhado em telhado, esgueira-se do limo
sem resvalar, intrépido, em busca de algum vestígio de comida. Não era o único
felino faminto, e por entre os latões de lixo depositados nos becos disputam
espinhas de peixes, minguadas sobras do jantar. Miados histéricos e tampas
voadoras são arremessadas ao chão, causam alvoroço na vizinhança. Portas e
janelas abrem-se, simultaneamente, na curiosidade de retratar a cena.
Assustados, os felinos fogem pelo breu da noite. A rua está deserta. O bar que
costuma estar movimentado deixa-se sucumbir pelo resguardo. Passava das vinte
horas, e em virtude da guerra, as pessoas recolhem-se cedo. Sob uma penumbra de
luz, Mary John, a dona do bar, escuta atenta a notícia no rádio. É noticiada a
queda de um avião perto da base de Pearl Harbor, abatido por um caça japonês,
sem sobreviventes. Pela descrição do piloto, havia indícios de ser Robert, seu
marido. A confirmação ocorreu logo em seguida, quando o locutor, pesaroso,
confirma. Perplexa com o que escuta, deixa o copo cair das pequenas mãos que o
enxugam. A face ligeiramente muda de cor, enquanto as lágrimas deslizam sob o
rosto angelical. Finalmente compreende o silêncio da resposta esperada, a carta
que não chegou às portas de casa. Havia deixado de escrever fazia algumas
semanas, as mais longas e angustiantes.
Um mês antes haviam feito um
piquenique no campo, à beira de um córrego. Foi numa manhã ensolarada, de céu
de brigadeiro. Ela estendeu uma toalha sob a grama, embaixo de uma árvore
centenária e frondosa, enquanto Robert, tomado pela curiosidade, espiava pela
beirada da cesta os quitutes, deliciando-se com os olhos argutos, e beliscando
às escondidas as uvas róseas. Naquele dia quente de verão, ficaram deitados na
grama, rindo à toa e fazendo planos. Desejavam morar no campo e construir uma
aconchegante casa de madeira. Fazer uma horta e plantar hortaliças, e, em torno
da casa, muitos gerânios. Pensavam em criar cavalos e vacas leiteiras. E por
fim, terem filhos, no mínimo três. Isso exigiria fôlego, riam ao imaginar, ao
mesmo tempo em que ficavam pensativos. Agora, o homem que tanto ama está
abandonado em alguma vala, como um dejeto.
Duas horas depois de ter recebido a
notícia pelo rádio, o relógio cuco, que faz um frenético tic-tac, para. O
silêncio é quebrado por um profundo suspiro. Mary John levanta-se numa atitude
de resignação, recolhe os cacos de vidros esparramados pelo chão. Apanha a
chave da velha camioneta Ford pendurada no balcão. Antes de sair, apaga as
velas e fecha o bar, com a intenção de não retornar tão cedo. Destemida, sabia
do desafio que a esperava: ser mulher da cor do ébano, viúva e dona de um bar.
Os últimos tempos juntos deixaram
inesquecíveis recordações dos momentos agradáveis em família: as gafes da Tia
Pérola no último jantar na casa dos pais de Robert, as flores que costumava
receber na sexta-feira, o beijo matinal estalado, as histórias divertidas que
Robert contava sobre o avô, as excentricidades mirabolantes que preparava na
cozinha, o uísque duplo, um vício diário, que costumava beber no fim da tarde,
sentado na varanda e ouvindo as músicas de Glenn Miller, os torneios de
beisebol nas manhãs de domingo, quando Bob, o cachorro dinamarquês, filava a
bolinha e não queria largá-la, fazendo a
família movimentar-se para tomá-la de volta e as cenas de ciúmes de Anne
Claire, que terminavam em silêncio por alguns minutos.
No final de semana, antes de partir
em viagem, fizeram uma visita aos pais de Robert que moravam na colina dos
lobos. Um lugar aprazível, onde se respirava ar puro, com muitas cornus,
árvores floridas típica da região.
Moravam num chalé aconchegante, no alto da colina, estupenda vista do
vale e rodeado de flores. Enxergavam as vacas pastando, os imponentes cavalos
de raça e cabritas saltitantes.
Enfileiravam-se próximas, outras
cabanas vizinhas. Quando chegavam, quase sempre, eram surpreendidos por Anne
Claire, uma moça que aparentava uns vinte anos, filha única de um casal de
vizinhos, que cumprimentava-os, aproveitando para esbanjar olhares
comprometedores a Robert. Mary John fingia não perceber, enquanto por dentro,
remoía os ciúmes. Ao retornarem, ela arrancou rapidamente o carro, passando por
cima de uma poça da água, deixando Anne cheia de lama e furiosa. Enquanto saía,
ficou cuidando a reação através do retrovisor, se quer disfarçou, colocando a
mão para fora do carro, sinalizando um “adeusinho”. Robert achou engraçado, ela
preferiu silenciar-se, rindo por dentro e imaginando como deveria estar Anne,
certamente brava, arrancando os poucos fios de cabelo loiro oxigenado.
Na última noite que ficaram juntos,
abriram um vinho branco, e ficaram em frente a lareira em cima do tapete de lã
de ovelha. Robert havia comentado sobre o desejo de trabalhar com o irmão em
uma serraria que pretendiam construir no campo, nas terras do avô, seguindo o
ofício dele. Enquanto falava, os olhos brilhavam e Mary John escutava atenta as
histórias de conquistas do avô e o sonho de construírem uma história
juntos. Na madrugada, a despedida, um
beijo longo e apaixonado, os dois se amam no tapete. No outro dia cedo, Robert
tomaria o trem para apresentar-se no Quarto General.
Os dias seguem, marcados por
ausências e vivas lembranças. Mary John fica preocupada ao ouvir rumores de
saqueadores na cidade. Alguns, não se contentavam em roubar, matavam e
estupravam friamente mulheres jovens. As vítimas negras, eram as mais abusadas,
quando não, mortas. Daí em diante, passa a cuidar-se, e evitar andar sozinha ao
escurecer. Fecha o bar mais cedo do que de costume. Numa noite, após ter fechado
o bar, ouviu um barulho seguido de estilhaços de vidro, alguém tinha jogado uma
pedra na janela, enquanto isso, a fechadura da porta era forçada. Alguém tentou
entrar, e não conseguiu. Estava bastante contrariado, chutando a porta diversas
vezes. Mary John escondeu-se atrás do balcão, e não foi para casa, dormindo ali
mesmo, encolhida de frio. Depois do episódio, outros semelhantes se sucederam,
o último, foi de maior gravidade, quando ao retornar para casa, encontrou-a
invadida e saqueada. Os objetos pessoais de valor imensurável quebrados, as
cortinas rasgadas, os móveis revirados e as poucas quinquilharias de valor
subtraídas, entre elas, o relógio de bolso que tinha sido do avô de Robert.
Haviam queimado parte da cozinha, por pura malvadeza, algo sem sentido, a não
ser para quem tem muito ódio guardado no coração.
Meses depois, desperta a primavera
alvissareira, com o desabrochar das flores perfumadas, dando cor e vida à
paisagem pálida. Na rua, as árvores ficam enfeitadas, charmosas e coloridas,
com os pássaros fazendo festa ao sugar o delicioso néctar. As cornus posavam
ornamentadas para serem retratadas pelas retinas ambulantes na passarela
cotidiana. Na varanda de casa, Mary John espreguiça-se sentada na namoradeira e
ouve as notícias auspiciosas pelo rádio, enquanto lê um livro debruçada no
aconchego do tempo, saboreia cada entrelinha com a fome da alma. Diverte-se com
o enredo imaginando ser a protagonista da história.
Aos poucos, volta a vibrar com as reações da
natureza a volta, quando admira o pôr-do-sol no auge da beleza cálida. A
esperança surge contagiante no horizonte da vida, respostas para os assuntos
engavetados no armário das expectativas. Já era hora de abrir a porta da
clausura, e deixar o sol entrar, extravasando ideias, sentimentos e dando cor aos
sonhos. A temperatura agradável e o
sopro da brisa faz as pálpebras pesarem, e tomba levemente a cabeça para o
lado, um cochilo interrompido pelo cumprimento do carteiro, que adianta-se,
dizendo não ter correspondência.
O carteiro caminha alguns metros, a
passos largos e assoviando, remexe na bolsa, quando encontra uma carta para
Mary John. Ele retorna, desculpa-se, e a entrega. Com a carta em mãos, abre
imediatamente.
A correspondência foi expedida pelo
comando do Quarto General, convidando para um funeral simbólico e coletivo que
seria realizado na próxima semana, já que muitos dos corpos não haviam sido
resgatados. Por alguns minutos fica pensativa. Afinal, ele merecia um funeral
digno, e até aquele momento, o comando havia se calado a respeito. As tentativas
de resgate do corpo de Robert eram sempre frustradas pela impossibilidade. Mary
John devolve a carta para o envelope, guarda-a na gaveta da mesa. A tristeza
ensaia retornar ao semblante, quando o telefone toca. Sai às pressas para
atender: era Pérola, a tia materna, convidando-a para o almoço no dia seguinte,
quando comemoraria seu aniversário.
Ao desligar, vai até a cozinha e
prepara uma torta de amora, a preferida de Pérola. Na cozinha, dispende um
longo tempo aprontando-a para a estreia à mesa no dia seguinte. Pérola era
glutona, vibraria com a torta. Enquanto imagina a cena, sorri, lembrando das
trapalhadas da tia, dominada por atitudes megalomaníacas. A torta deveria ser
grande, do tamanho do desejo. Ela adorava contabilizar gentilezas, registrando
tudo, ou quase tudo, no diário que guardava embaixo do travesseiro. Secreto e intocável, mas todos sabiam que
estava lá. De uma forma ou outra, desejava que assim não fosse.
Algumas horas na cozinha e Mary John
distrai-se entre as panelas enquanto beberica um licor de cassis. Sem perceber
as horas, observa pela janela da cozinha a tarde se despedindo. Podia ouvir a
revoada dos pássaros no entardecer e os gorjeios galanteadores. No céu azul
cinéreo, uma nesga avermelhada, indícios de um porvir ensolarado. Mary John
fecha as janelas da casa e liga o companheiro valvulado, o rádio, saboreando a
nostalgia dos velhos tempos enquanto ouvia a música In The Mood, reportando-a a
saudade de Robert. Uma lágrima foge ao controle. Pensava agora na carta, no funeral
simbólico. Remexer na mácula era doloroso, mas preciso. Durante a noite, teve
um sonho, do qual não queria acordar. Sonhou que havia encontrado Robert numa
ilha paradisíaca. Estava bem, apesar dos ferimentos. Por alguns instantes
conversaram, e, ao se despedirem, prometeu retornar para casa.
Dias depois, após um exaustivo dia de
trabalho, Mary John retorna para casa dirigindo a velha camioneta que herdou do
pai, quando para de funcionar. A parceira metálica a deixa, mais uma vez, em
uma situação de perigo. Era incomum mulher dirigir, e muito menos, sozinha em
uma estrada erma, um convite para salteadores à espreita. O radiador fumega,
sem água, pois está furado. Depois de abastecer com água, um rapaz que passa
pelo local de bicicleta, se dispôs ajudá-la. Ela aceita, apesar do
desconforto. Ele empurra a camioneta,
quando pega no tranco. Quando chega em casa, aproveita o resto de tarde para
plantar alguns gerânios no jardim dos fundos.
Bob late o tempo inteiro, provoca
Meow, a gata amarela da vizinha, que passeia entre os canteiros de flores. Mary
John desliza a mão no pelo macio de Meow, afagando a cabeça, enquanto ronrona,
desliza o corpo fofo nas pernas dela. Bob está inquieto, late insistente. Já
havia derrubado alguns vasos, estragado o tapete da porta de entrada, pois
tinha o costume de roer, quando faltava um suculento osso para distrair-se. Sem
compreender a agitação, atira uma bolinha de beisebol para distraí-lo.
Imediatamente, ele a devolve. Depois de várias vezes, Mary John se cansa, e
fica zangada com Bob que insiste por brincar.
Após terminar as atividades no
jardim, vai até a cozinha e pega uma maça e a revista que está sob a mesa, e
senta-se na escada da varanda. Distraída, ao folhá-la, ouve o farfalhar das
folhas esparramadas pelo chão. Surpreende-se ao olhar, emudece e numa atitude
de espanto, não consegue falar. Robert volta pra casa em um jipe dirigido por
um soldado. Desembarca amparado por uma muleta, e somente nesse momento, Mary
John percebe que não se trata de alucinação, Robert está vivo. E corre na sua direção, com os olhos
marejados, enquanto ele larga a muleta, e sob um pé só, abraça-a firmemente,
por um longo tempo, interpelados pelo latir alucinado de Bob ao ver Robert, e
um tanto saudoso pula no peito do dono fazendo festa.
Nas mãos, Robert traz várias
correspondências que não havia conseguido despachar. Uma carta em especial,
contando o que havia acontecido e quando deveria retornar. Tempo depois,
descobriu que as cartas não haviam sido remetidas, e, sem explicação, retornaram
para suas mãos. Estava em uma ilha do pacífico, sem comunicação e ferido, o que
explicava o silêncio de Robert. No tempo de espera, o coração ficou angustiado,
já não sabia como a encontraria. Quem sabe, casada com outro.
Semanas depois, Robert vende o bar,
fechando um negócio estupendo, dinheiro o suficiente para realizarem o sonho
tão almejado. Colocam as tralhas e Bob na camioneta, e mudam-se para a colina
dos lobos, construindo a casa que haviam planejado durante anos.
Na varanda, o inusitado, a paisagem
do grande canyon a perder de vista. Ao entardecer presenciam um espetáculo,
quando o sol, lentamente, se põe. Olham para o horizonte alaranjado,
desfrutando de um momento único e tão sonhado, enquanto Robert desliza a mão
sob o ventre gestante de Mary John à espera do primogênito.
A melhor maneira de ser FELIZ com alguém é ...
Às vezes, a necessidade de ter alguém ao lado para fugir da solidão, acaba nos levando a uma infeliz escolha. O ideal é experimentar a solitude, aprender a ser feliz sozinho, para permitir-se em algum momento "escolher" alguém, evitando entrar em um relacionamento infrutífero apenas pela necessidade.
Não vale a pena desesperar-se por carência, caindo na própria armadilha.
Dê tempo ao tempo! Naturalmente, acontece.
quinta-feira, 29 de maio de 2014
Escolhas: Razão x Emoção
Quando porventura surgir um conflito íntimo no
momento de uma escolha, entre razão e emoção, cuidado para não enganar-se, preferindo a zona de conforto. A emoção cega, mas a
razão liberta.
Se estás cansado de ser dois, com a sensação de ser
sempre um, é momento de pontuar a história, por mais triste que possa ser.
Antes, esgote as tentativas, evitando atitudes impulsivas. Necessariamente,
começar outra história não requer um novo amor. Recomeço onde o protagonista será sempre você, conduzindo a máquina da realidade com atitudes, pés fincados no chão e fazendo nova aposta na felicidade, pequenos grandes momentos que fazem os olhos brilharem de alegria, preenchendo a vida generosamente com doses de estímulos positivos.
Como protagonista cabe contá-la da forma que
suscite satisfação. Nem sempre o melhor é estar acompanhado, às vezes, o diferencial
é esse. Todos procuram por alguém especial, um príncipe ou princesa que encanta
e posteriormente, desencanta. Na verdade lindo e maravilhoso somente no conto
de fadas. No começo tudo são flores, com o passar do tempo, os problemas
começam a surgir, mas isso é normal, afinal são as diferenças de valores,
cultura e personalidade. Namorar é gostoso, dispensa responsabilidades, mas a
convivência diária, embaixo do mesmo teto, exige em primeiro lugar: O respeito
pela individualidade, tolerância e a aceitação das coisas que não gostamos no
outro, como: tiques, vícios e costumes, ou seja, como ele (a) é.
Conviver com as diferenças pode ser uma experiência
tranquila ou complicada. Depende da personalidade de cada um e de quem escolhemos
como parceiro. Não culpe o outro pelos desencontros. Em primeiro lugar, foi escolhido e em segundo, ninguém é perfeito. A decisão é nossa! Não adianta
iludir-se com a possibilidade que o outro será aquilo que esperas, será mera
frustração.
O importante é estar de bem consigo mesmo, não
importando se estás sozinho ou acompanhado. E no caminho, se encontrares alguém
que vale a pena conhecer, permita-se a tentativa, sem esperar muito, talvez
assim, apareça alguém que irá fazer a diferença. Lembre-se, somos livres e
responsáveis pelas escolhas, e principalmente, por aquilo que trazemos para
dentro da nossa vida.
sexta-feira, 16 de maio de 2014
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