quarta-feira, 31 de dezembro de 2014

Promessa aos Anos Vindouros


Comprometa-se consigo mesmo: Viva a vida plenamente! Que 2015 represente uma mudança significativa em todos os aspectos existenciais e que possas desfrutar da "vida" de maneira intensa e VERDADEIRA. Seja você mesmo!

quinta-feira, 16 de outubro de 2014

O Tempo Ensina


O tempo, ao passar, vai mostrando e ensinando verdades. Algumas são evidentes, não tem como não querer enxergar. Outras, preferimos ignorar, pois nos deixa seguros. E tem aquelas que fingimos não ver, e lá no fundo, incomoda. Talvez assim, nos enganando, é mais fácil contornar a dor de um relacionamento frustrado.
Procuramos várias respostas aos infortúnios, até mesmo, tentativa de nos sabotar de alguma forma, com a esperança de encontrarmos lá no fim do túnel, um belo arco-íris para colorir a vida.
O erro não está no outro, mas na forma como percebemos a realidade a nossa volta, como desejamos ser felizes a qualquer preço. Às vezes, o bom é não criar expectativa alguma, nos entretermos com as possibilidades do momento, e em algum instante, quando estivermos bem distraídos, encontrarmos alguém que nos faça feliz de verdade.
Lembre-se, viver é isso, adquirir sabedoria para vivermos cada vez melhor. E com a maturidade emocional, conquistamos, a cada dia, inúmeras oportunidades. Viver melhor, não significa somente "ter", mas "ser" alguém que se faça feliz, acima de tudo. Portanto, ame-se!

 Iara Ladvig



sexta-feira, 10 de outubro de 2014

Atracadouro de Lembranças

         

E, de repente, ancorei num atracadouro de lembranças, aquelas que não conseguimos sublimar e esquecer facilmente, que ficam por trás da retina, escondidas em algum refúgio, paraíso de emoções náufragas, a espera de serem salvas.

segunda-feira, 6 de outubro de 2014

Enamorar-se

ATA-ME

 Manhã primaveril
Odor da inflorescência 
Exala o jardim da alma
Florescido de emoções 
Chegaram para ficar
A paixão despediu-se 
Deixando lembranças gostosas
Experimento diário em fatias
Ante as explosões da carne
Efervescência arrebatadora
Agitando os desejos
As palavras que acalentam
O calor do abraço 
A ternura que afaga, 

Ata-me.



POESIA


Calado observas
Na inquietude saboreia
As descobertas que vai fazendo.
Debruçado na escrivania
Com a pena rabiscas
Leve, voa entre os dedos.

Cheios de histórias para contar
Aquelas que a imaginação conta
Sem hora certa para chegar.
Quando desperta, não faz alarde
Na  explosão de letras
Que saem involuntárias.

São sentimentos impontuáveis
Desejosos e febris
Tem sede de cor, alma e luz.
Mesmo as intempéries que assolam o dia
                                                  Tempestade ou relampejar
A névoa intrusa e cálida.

Os sinais da natureza inspiram o poeta
Seduzem com o inusitado
Admiram os olhos insaciáveis
Quando a poesia regressa
No papel desfaz-se inteira,

A poesia.

sexta-feira, 3 de outubro de 2014

Centro Cultural La Sebastiana





      Quadro fotografado dentro do Museu La Sebastiana, onde aparece Neruda  (ao fundo) com Matilde (esposa).



Área externa do Museu.


                        La Sebastiana
Não foi permitido fazer fotografias internas da casa.
O interior é um sonho. Casa de conto de fadas, atípica, recheada de histórias pessoais, cumplicidade do casal, a própria poesia. Enfim, a pátria poética que inspiravam  doces e inquietantes poesias. Lembrando que Neruda tinha três casas: La Sebastiana, Isla Negra e La Chascona.

Los Ojos de Neruda

 
La Sebastiana 
 Valparaíso - Chile

Queria ser por alguns instantes
Os olhos de Neruda
A passearem argutos pela paisagem enamorada
Do alto do  refúgio “La Sebastiana”
Onde habitava com a amada Matilde.

Pudera eu, tocar com seus olhos, o intocável
Que uma simples alma da plebe literária ousaria
Poder sentir o refinado escutar
Das ondas quebrando nas pedras das suas dúvidas
Indubitáveis, doces tormentos.

E quando a maré chegasse
Rolaria pela areia, desapegada d’alma
Já embrulhada na seda do refinar poético
Analisaria com olhos sôfregos
Para vestir a lisonja.

No esconderijo do recanto
Desfolhar-me, como um bem-me-quer
Cantar-me um solo de letras
Descrever em sonetos a ousadia
A admiração da plebeia pelo o rei.

Poeta imortal partiu em sua nau
Deixando saudades nos recantos
Habitadas por eternas lembranças
Partida de muitos retornos

A qual a alma não cansa, regressa.

quarta-feira, 1 de outubro de 2014

Suave Despertar



No leito dos sonhos
Durmo tranquila
Na esperança do amanhã
A alegria do despertar.

Ao resplandecer da aurora,
Ouço a sinfonia dos pássaros
Gorjeando a felicidade
No beiral da janela.

Insisto no sonho
De ser um pássaro
Adornar os lírios,
Como um beija-flor.

Delicado, voa
A beijar as flores
Sugar o néctar
O precioso mel.

Mimosura adorna
Os quintais da vida
Aprecia silencioso
A beleza cálida.

Voa, voa,
Volta sempre
Ao teu recanto
Sonho de alvorecer.

terça-feira, 23 de setembro de 2014

sexta-feira, 5 de setembro de 2014

Serelepe


Menina serelepe
Matraqueira explode
Peraltice faceira.

Não perdoa os insossos
De fala prosa e astuta
Faz a vida sacudir.

Remexendo no vespeiro
Da maldade do Interior
A mulherada se espanta.

Serelepe, Deus me acuda!
É um verdadeiro terror.

Menina de Juazeiro
Padrinho Cícero, Sim Senhor!
Valei-me santinho.

Livrai-nos desta lampeira
Pimenta vermelha, porreta!
Ardida, sacode o sossego.

A menina formosa
Cobiçada pelos Coronéis
Desejo  dos peões.

Cabrita, fere sem dó
A castidade do sertão
Serelepe sedutora.

Refrão

 

Insistes em cantar
O velho refrão
De uma música de bar.

Antiga estação
Amigos de porre
Fartas mulheres.

Tornou-se artista
Encenando mentiras
Em vendaval de cobranças.

Tapas na cara, rebu de família.
A taça final, champanhe e meninas.
E o velho refrão.

Tocado no piano de bar
A letra é verdade.
Viver e amar  são prioridade.


quinta-feira, 10 de julho de 2014

Resposta



Circulo vicioso
Depressão, desespero
Falam os olhos
Bocas murmuram aflição
Fogem.

Correram, caíram
Tombaram-se esperanças
Misérias de um destino
Bocas murmuram pragas
Cedem.

Choram os injustiçados
Politicagem rolou
Na ladeira desumana
Bocas murmuram silêncio
Respondem.

Ambição

 
Uma estrela brilha no cosmos
E nela destinas as ambições
Todas secretas
Sem perder tempo
No espaço concreto
Fabricas a todo instante
O poder capital.
Alienando-te no desejo
Não medes sacrifícios
Deixa-te sucumbir pela moeda
O detalhe formal do poder
Que compra a ostentação
Corrompe a justiça
Refugiando-se na hipocrisia.

quarta-feira, 25 de junho de 2014

Mornas Inquietudes

  

Chove torrencialmente. Na rua transeuntes dispersam-se, o tempo mudou de humor, esbraveja trovoada. Passageiro temporal lava as ruas, chuva brava silencia.
Na calçada, uma mulher desce a ladeira, devagar para não cair. Leva, nas costas, o peso das preocupações impostas pela vida, ao encontro do Boulevard Café, pausa rotineira. Molhada pela chuva, no balcão faz seu pedido, na saborosa inquietude do desejo de degustar um café. Engole como se fosse o último, prazer apreciado aos poucos, assim como inquietudes inevitáveis, entre um e outro gole.
Olhares sutis despertam a cumplicidade. Homens de paladar apurado saboreiam a admiração. Entre os olhares, insinuante aceno. Um breve olhar ensaia a resposta do adeus. No Boulevard Café, o mesmo pedido, diferentes inquietudes, cúmplices olhares e um salutar café.
Na rua, a chuva silenciara. A mulher retoma o trajeto, com o fardo mais leve, deixando as preocupações à mercê do destino. O sol aparece tímido, alguns pássaros cantarolam, ensaiando um fim de tarde poético, de mornas inquietudes na passarela cotidiana da vida.

terça-feira, 24 de junho de 2014

Sonho de Esperança


Numa manhã de verão de 1940, Esperança, que então tinha sete anos de idade, avistara o mar pela primeira vez. Fora um encontro inesquecível, cheio de surpresas agradáveis.
Sob os cômoros de areia, trilhava deixando pequenas pegadas. A cabeleira crespa esvoaçava, tocada pelo vento que soprava forte. Sentada na areia, admirava o mar, mergulhando em seus mistérios. Um olhar curioso, por trás dos olhos graúdos e negros, que mais pareciam jabuticabas. Vestia um vestido de chita amarela, e calçava sandálias de couro, surradas pelo tempo, que mal cabiam em seus pés. Franzina, esboçava um sorriso meigo que emoldurava o rosto com uma expressão angelical.
A menina viajara com o pai, em uma de suas viagens costumeiras pelo sertão nordestino, dentro de um pau-de-arara. Estava sendo levada para morar com os tios na capital, antes, suplicara para conhecer o oceano. Naquele instante inesquecível, concretizara um sonho pueril.
Recebera do mar, uma oferenda, uma grande concha rósea, a qual colocara ao lado do ouvido, tendo a gostosa sensação de ouvir a sinfonia das ondas.

segunda-feira, 23 de junho de 2014

Uma Carta para Mary John




Virgínia, 1941.

Chove aos cântaros, um aguaceiro jorra dos céus e deixa a cidade à mercê do mau tempo. Alguns moradores, assustados, ficam de vigília junto às janelas das casas. Ritualmente, acendem velas e rezam com um terço em mãos, invocando a proteção divina.
Após estiar a chuva, uma névoa fria cobre as ruas, sombrias e solitárias, e alastra-se pelo gueto, invadindo as vielas escuras e tornando-as assustadoras. No cenário entristecido pelo tempo, um gato preto desafia o perigo, pula de telhado em telhado, esgueira-se do limo sem resvalar, intrépido, em busca de algum vestígio de comida. Não era o único felino faminto, e por entre os latões de lixo depositados nos becos disputam espinhas de peixes, minguadas sobras do jantar. Miados histéricos e tampas voadoras são arremessadas ao chão, causam alvoroço na vizinhança. Portas e janelas abrem-se, simultaneamente, na curiosidade de retratar a cena. Assustados, os felinos fogem pelo breu da noite. A rua está deserta. O bar que costuma estar movimentado deixa-se sucumbir pelo resguardo. Passava das vinte horas, e em virtude da guerra, as pessoas recolhem-se cedo. Sob uma penumbra de luz, Mary John, a dona do bar, escuta atenta a notícia no rádio. É noticiada a queda de um avião perto da base de Pearl Harbor, abatido por um caça japonês, sem sobreviventes. Pela descrição do piloto, havia indícios de ser Robert, seu marido. A confirmação ocorreu logo em seguida, quando o locutor, pesaroso, confirma. Perplexa com o que escuta, deixa o copo cair das pequenas mãos que o enxugam. A face ligeiramente muda de cor, enquanto as lágrimas deslizam sob o rosto angelical. Finalmente compreende o silêncio da resposta esperada, a carta que não chegou às portas de casa. Havia deixado de escrever fazia algumas semanas, as mais longas e angustiantes.
Um mês antes haviam feito um piquenique no campo, à beira de um córrego. Foi numa manhã ensolarada, de céu de brigadeiro. Ela estendeu uma toalha sob a grama, embaixo de uma árvore centenária e frondosa, enquanto Robert, tomado pela curiosidade, espiava pela beirada da cesta os quitutes, deliciando-se com os olhos argutos, e beliscando às escondidas as uvas róseas. Naquele dia quente de verão, ficaram deitados na grama, rindo à toa e fazendo planos. Desejavam morar no campo e construir uma aconchegante casa de madeira. Fazer uma horta e plantar hortaliças, e, em torno da casa, muitos gerânios. Pensavam em criar cavalos e vacas leiteiras. E por fim, terem filhos, no mínimo três. Isso exigiria fôlego, riam ao imaginar, ao mesmo tempo em que ficavam pensativos. Agora, o homem que tanto ama está abandonado em alguma vala, como um dejeto.
Duas horas depois de ter recebido a notícia pelo rádio, o relógio cuco, que faz um frenético tic-tac, para. O silêncio é quebrado por um profundo suspiro. Mary John levanta-se numa atitude de resignação, recolhe os cacos de vidros esparramados pelo chão. Apanha a chave da velha camioneta Ford pendurada no balcão. Antes de sair, apaga as velas e fecha o bar, com a intenção de não retornar tão cedo. Destemida, sabia do desafio que a esperava: ser mulher da cor do ébano, viúva e dona de um bar.
Os últimos tempos juntos deixaram inesquecíveis recordações dos momentos agradáveis em família: as gafes da Tia Pérola no último jantar na casa dos pais de Robert, as flores que costumava receber na sexta-feira, o beijo matinal estalado, as histórias divertidas que Robert contava sobre o avô, as excentricidades mirabolantes que preparava na cozinha, o uísque duplo, um vício diário, que costumava beber no fim da tarde, sentado na varanda e ouvindo as músicas de Glenn Miller, os torneios de beisebol nas manhãs de domingo, quando Bob, o cachorro dinamarquês, filava a bolinha e não queria largá-la,  fazendo a família movimentar-se para tomá-la de volta e as cenas de ciúmes de Anne Claire, que terminavam em silêncio por alguns minutos.
No final de semana, antes de partir em viagem, fizeram uma visita aos pais de Robert que moravam na colina dos lobos. Um lugar aprazível, onde se respirava ar puro, com muitas cornus, árvores floridas típica da região.  Moravam num chalé aconchegante, no alto da colina, estupenda vista do vale e rodeado de flores. Enxergavam as vacas pastando, os imponentes cavalos de raça e cabritas saltitantes.
Enfileiravam-se próximas, outras cabanas vizinhas. Quando chegavam, quase sempre, eram surpreendidos por Anne Claire, uma moça que aparentava uns vinte anos, filha única de um casal de vizinhos, que cumprimentava-os, aproveitando para esbanjar olhares comprometedores a Robert. Mary John fingia não perceber, enquanto por dentro, remoía os ciúmes. Ao retornarem, ela arrancou rapidamente o carro, passando por cima de uma poça da água, deixando Anne cheia de lama e furiosa. Enquanto saía, ficou cuidando a reação através do retrovisor, se quer disfarçou, colocando a mão para fora do carro, sinalizando um “adeusinho”. Robert achou engraçado, ela preferiu silenciar-se, rindo por dentro e imaginando como deveria estar Anne, certamente brava, arrancando os poucos fios de cabelo loiro oxigenado.
Na última noite que ficaram juntos, abriram um vinho branco, e ficaram em frente a lareira em cima do tapete de lã de ovelha. Robert havia comentado sobre o desejo de trabalhar com o irmão em uma serraria que pretendiam construir no campo, nas terras do avô, seguindo o ofício dele. Enquanto falava, os olhos brilhavam e Mary John escutava atenta as histórias de conquistas do avô e o sonho de construírem uma história juntos.  Na madrugada, a despedida, um beijo longo e apaixonado, os dois se amam no tapete. No outro dia cedo, Robert tomaria o trem para apresentar-se no Quarto General.
Os dias seguem, marcados por ausências e vivas lembranças. Mary John fica preocupada ao ouvir rumores de saqueadores na cidade. Alguns, não se contentavam em roubar, matavam e estupravam friamente mulheres jovens. As vítimas negras, eram as mais abusadas, quando não, mortas. Daí em diante, passa a cuidar-se, e evitar andar sozinha ao escurecer. Fecha o bar mais cedo do que de costume. Numa noite, após ter fechado o bar, ouviu um barulho seguido de estilhaços de vidro, alguém tinha jogado uma pedra na janela, enquanto isso, a fechadura da porta era forçada. Alguém tentou entrar, e não conseguiu. Estava bastante contrariado, chutando a porta diversas vezes. Mary John escondeu-se atrás do balcão, e não foi para casa, dormindo ali mesmo, encolhida de frio. Depois do episódio, outros semelhantes se sucederam, o último, foi de maior gravidade, quando ao retornar para casa, encontrou-a invadida e saqueada. Os objetos pessoais de valor imensurável quebrados, as cortinas rasgadas, os móveis revirados e as poucas quinquilharias de valor subtraídas, entre elas, o relógio de bolso que tinha sido do avô de Robert. Haviam queimado parte da cozinha, por pura malvadeza, algo sem sentido, a não ser para quem tem muito ódio guardado no coração.
Meses depois, desperta a primavera alvissareira, com o desabrochar das flores perfumadas, dando cor e vida à paisagem pálida. Na rua, as árvores ficam enfeitadas, charmosas e coloridas, com os pássaros fazendo festa ao sugar o delicioso néctar. As cornus posavam ornamentadas para serem retratadas pelas retinas ambulantes na passarela cotidiana. Na varanda de casa, Mary John espreguiça-se sentada na namoradeira e ouve as notícias auspiciosas pelo rádio, enquanto lê um livro debruçada no aconchego do tempo, saboreia cada entrelinha com a fome da alma. Diverte-se com o enredo imaginando ser a protagonista da história.
 Aos poucos, volta a vibrar com as reações da natureza a volta, quando admira o pôr-do-sol no auge da beleza cálida. A esperança surge contagiante no horizonte da vida, respostas para os assuntos engavetados no armário das expectativas. Já era hora de abrir a porta da clausura, e deixar o sol entrar, extravasando ideias, sentimentos e dando cor aos sonhos. A   temperatura agradável e o sopro da brisa faz as pálpebras pesarem, e tomba levemente a cabeça para o lado, um cochilo interrompido pelo cumprimento do carteiro, que adianta-se, dizendo não ter correspondência.
O carteiro caminha alguns metros, a passos largos e assoviando, remexe na bolsa, quando encontra uma carta para Mary John. Ele retorna, desculpa-se, e a entrega. Com a carta em mãos, abre imediatamente.
A correspondência foi expedida pelo comando do Quarto General, convidando para um funeral simbólico e coletivo que seria realizado na próxima semana, já que muitos dos corpos não haviam sido resgatados. Por alguns minutos fica pensativa. Afinal, ele merecia um funeral digno, e até aquele momento, o comando havia se calado a respeito. As tentativas de resgate do corpo de Robert eram sempre frustradas pela impossibilidade. Mary John devolve a carta para o envelope, guarda-a na gaveta da mesa. A tristeza ensaia retornar ao semblante, quando o telefone toca. Sai às pressas para atender: era Pérola, a tia materna, convidando-a para o almoço no dia seguinte, quando comemoraria seu aniversário.
Ao desligar, vai até a cozinha e prepara uma torta de amora, a preferida de Pérola. Na cozinha, dispende um longo tempo aprontando-a para a estreia à mesa no dia seguinte. Pérola era glutona, vibraria com a torta. Enquanto imagina a cena, sorri, lembrando das trapalhadas da tia, dominada por atitudes megalomaníacas. A torta deveria ser grande, do tamanho do desejo. Ela adorava contabilizar gentilezas, registrando tudo, ou quase tudo, no diário que guardava embaixo do travesseiro.  Secreto e intocável, mas todos sabiam que estava lá. De uma forma ou outra, desejava que assim não fosse.
Algumas horas na cozinha e Mary John distrai-se entre as panelas enquanto beberica um licor de cassis. Sem perceber as horas, observa pela janela da cozinha a tarde se despedindo. Podia ouvir a revoada dos pássaros no entardecer e os gorjeios galanteadores. No céu azul cinéreo, uma nesga avermelhada, indícios de um porvir ensolarado. Mary John fecha as janelas da casa e liga o companheiro valvulado, o rádio, saboreando a nostalgia dos velhos tempos enquanto ouvia a música In The Mood, reportando-a a saudade de Robert. Uma lágrima foge ao controle. Pensava agora na carta, no funeral simbólico. Remexer na mácula era doloroso, mas preciso. Durante a noite, teve um sonho, do qual não queria acordar. Sonhou que havia encontrado Robert numa ilha paradisíaca. Estava bem, apesar dos ferimentos. Por alguns instantes conversaram, e, ao se despedirem, prometeu retornar para casa.
Dias depois, após um exaustivo dia de trabalho, Mary John retorna para casa dirigindo a velha camioneta que herdou do pai, quando para de funcionar. A parceira metálica a deixa, mais uma vez, em uma situação de perigo. Era incomum mulher dirigir, e muito menos, sozinha em uma estrada erma, um convite para salteadores à espreita. O radiador fumega, sem água, pois está furado. Depois de abastecer com água, um rapaz que passa pelo local de bicicleta, se dispôs ajudá-la. Ela aceita, apesar do desconforto.  Ele empurra a camioneta, quando pega no tranco. Quando chega em casa, aproveita o resto de tarde para plantar alguns gerânios no jardim dos fundos.
Bob late o tempo inteiro, provoca Meow, a gata amarela da vizinha, que passeia entre os canteiros de flores. Mary John desliza a mão no pelo macio de Meow, afagando a cabeça, enquanto ronrona, desliza o corpo fofo nas pernas dela. Bob está inquieto, late insistente. Já havia derrubado alguns vasos, estragado o tapete da porta de entrada, pois tinha o costume de roer, quando faltava um suculento osso para distrair-se. Sem compreender a agitação, atira uma bolinha de beisebol para distraí-lo. Imediatamente, ele a devolve. Depois de várias vezes, Mary John se cansa, e fica zangada com Bob que insiste por brincar.
Após terminar as atividades no jardim, vai até a cozinha e pega uma maça e a revista que está sob a mesa, e senta-se na escada da varanda. Distraída, ao folhá-la, ouve o farfalhar das folhas esparramadas pelo chão. Surpreende-se ao olhar, emudece e numa atitude de espanto, não consegue falar. Robert volta pra casa em um jipe dirigido por um soldado. Desembarca amparado por uma muleta, e somente nesse momento, Mary John percebe que não se trata de alucinação, Robert está vivo.  E corre na sua direção, com os olhos marejados, enquanto ele larga a muleta, e sob um pé só, abraça-a firmemente, por um longo tempo, interpelados pelo latir alucinado de Bob ao ver Robert, e um tanto saudoso pula no peito do dono fazendo festa.
Nas mãos, Robert traz várias correspondências que não havia conseguido despachar. Uma carta em especial, contando o que havia acontecido e quando deveria retornar. Tempo depois, descobriu que as cartas não haviam sido remetidas, e, sem explicação, retornaram para suas mãos. Estava em uma ilha do pacífico, sem comunicação e ferido, o que explicava o silêncio de Robert. No tempo de espera, o coração ficou angustiado, já não sabia como a encontraria. Quem sabe, casada com outro.
Semanas depois, Robert vende o bar, fechando um negócio estupendo, dinheiro o suficiente para realizarem o sonho tão almejado. Colocam as tralhas e Bob na camioneta, e mudam-se para a colina dos lobos, construindo a casa que haviam planejado durante anos.
Na varanda, o inusitado, a paisagem do grande canyon a perder de vista. Ao entardecer presenciam um espetáculo, quando o sol, lentamente, se põe. Olham para o horizonte alaranjado, desfrutando de um momento único e tão sonhado, enquanto Robert desliza a mão sob o ventre gestante de Mary John à espera do primogênito.



A melhor maneira de ser FELIZ com alguém é ...


Às vezes, a necessidade de ter alguém ao lado para fugir da solidão, acaba nos levando a uma infeliz escolha. O ideal é experimentar a solitude, aprender a ser feliz sozinho, para permitir-se em algum momento "escolher" alguém, evitando entrar em um relacionamento infrutífero apenas pela necessidade.
Não vale a pena desesperar-se por carência, caindo na própria armadilha.
Dê tempo ao tempo! Naturalmente, acontece.

quinta-feira, 29 de maio de 2014

Existem Duas Escolhas na Vida




Escolhas: Razão x Emoção



Quando porventura surgir um conflito íntimo no momento de uma escolha, entre razão e emoção, cuidado para não enganar-se, preferindo a zona de conforto. A emoção cega, mas a razão liberta.
Se estás cansado de ser dois, com a sensação de ser sempre um, é  momento de pontuar a história, por mais triste que possa ser. Antes, esgote as tentativas, evitando atitudes impulsivas. Necessariamente, começar outra história não requer um novo amor. Recomeço onde o protagonista será sempre você, conduzindo a máquina da realidade com atitudes, pés fincados no chão e fazendo nova aposta na felicidade, pequenos grandes momentos que fazem os olhos brilharem de alegria, preenchendo a vida generosamente com  doses de estímulos positivos.
Como protagonista cabe contá-la da forma que suscite satisfação. Nem sempre o melhor é estar acompanhado, às vezes, o diferencial é esse. Todos procuram por alguém especial, um príncipe ou princesa que encanta e posteriormente, desencanta. Na verdade lindo e maravilhoso somente no conto de fadas. No começo tudo são flores, com o passar do tempo, os problemas começam a surgir, mas isso é normal, afinal são as diferenças de valores, cultura e personalidade. Namorar é gostoso, dispensa responsabilidades, mas a convivência diária, embaixo do mesmo teto, exige em primeiro lugar: O respeito pela individualidade, tolerância e a aceitação das coisas que não gostamos no outro, como: tiques, vícios e costumes, ou seja, como ele (a) é.
Conviver com as diferenças pode ser uma experiência tranquila ou complicada. Depende da personalidade de cada um e de quem escolhemos como parceiro. Não culpe o outro pelos desencontros. Em primeiro lugar, foi escolhido e em segundo, ninguém é perfeito. A decisão é nossa! Não adianta iludir-se com a possibilidade que o outro será aquilo que esperas, será mera frustração.
O importante é estar de bem consigo mesmo, não importando se estás sozinho ou acompanhado. E no caminho, se encontrares alguém que vale a pena conhecer, permita-se a tentativa, sem esperar muito, talvez assim, apareça alguém que irá fazer a diferença. Lembre-se, somos livres e responsáveis pelas escolhas, e principalmente, por aquilo que trazemos para dentro da nossa vida.