segunda-feira, 21 de maio de 2018

Retratos Existenciais: Da singularidade à pluralidade




No começo, somos apenas uma existência singular na descoberta do mundo, literalmente, caindo e levantando, engatinhando e aprendendo a andar, e  descobrindo, em pormenores, uma história fantástica: A vida.

Extrapolando o lúdico, as fantasias, e saboreando-os na sua textura delicada, a criança cresce apreendendo tudo a sua volta. Registrando fatos, fotografando-os na mente curiosa, como flashbacks, montando um quebra-cabeça que vai se encaixando com facilidade, no limite das descobertas: formas, cores, dimensões, construindo a própria história, única, em fragmentos elaborando sua trajetória na vida.

Através do contato tão particular entre o mundo imaginário e o real, ela vai expressando as preferências e, pelo tato, paladar, olfato, visão e audição, vai estabelecendo uma conexão de informações, imergindo na percepção, detendo a soberania do seu mundinho.

À medida que constrói suas verdades, também fabrica medos, liberta-se na imaginação e cria seus fantasmas, adota como mimos pedrinhas, flores, chupetas, e travesseiros, e transforma objetos obsoletos em talismãs. Agarra-se neles para fugir do temido “bicho-papão” ou, o “velho do saco”.

A criança vai criando uma simbologia, e adotando uma postura de respeito, adoração ou medo para com eles. Zomba, ri, muitas vezes, mas corre de medo do desconhecido. A beleza reverenciada na infância é a pureza da alma, ainda não contaminada com as chagas do caráter.

Na infância somos protagonistas de nossas próprias histórias: de princesas, dragões, cavaleiros e fadas. Isso faz com que tenhamos capacidade para elaborar dentro do processo de desenvolvimento biopsicossocial, a própria identidade, continuando a ser protagonistas na realidade, com o livre-arbítrio para fazer escolhas e enfrentar os bichos-papões que, porventura, apareçam.(...)

Texto extraído do livro Nós Desfeitos de nós: Desafios.