quinta-feira, 23 de agosto de 2018

Alamedas da Vida





I.Ladvig

Ao caminhar solitário em uma noite gélida e sombria, entre os fumacejos da fabrica do medo, ouvi na alameda tristonha alguém me chamando. Por um momento, estarrecido pelo pavor explicável não respondi, sequer olhei. Continuei meus passos por aquela rua deserta. Novamente alguém me chamou, a voz parecia familiar, então, sem pensar fui ao encontro.
Atônito, deixei-me envolver em uma atmosfera de brandura, pois o homem pareceu me conhecer de outras vivências. Pude sentir na entonação de sua voz, uma complacência inexplicável, despertando a necessidade de ouvi-lo e sentir sua presença. A afeição surgiu docemente, e me conquistou. À medida em que trocávamos ideias, me convencia de sermos antigos amigos.
Perguntou-me para onde estava indo. Por um momento titubeei em responder e parei por um instante, como se não soubesse o caminho de volta para casa. Então, pediu-me para não temer e segurou fortemente a minha mão.
Havíamos ficado horas conversando e nos esquecemos da fragilidade do tempo, quando a névoa interpelou-nos. Como voltaria para casa sem poder enxergar claramente o caminho? Foi quando me disse para não me preocupar, que tivesse fé e acreditasse que logo estaria novamente em casa. Sem saber, fitei-o firmemente nos olhos e perguntei-lhe como isso seria possível sem ter noção de qual rumo tomar?
Em um piscar de olhos ele me deixou no portão de casa. Fiquei alegre e agradecido. Convidei-o para entrar e tomar um chá comigo. Educadamente, agradeceu, em outra ocasião, aceitaria. No ensejo, pedi que entrasse e conhecesse minha família. Qual foi minha surpresa quando respondeu que já nos conhecia. Ainda não refeito, perguntei-lhe de onde, e ele me respondeu que sempre esteve entre nós, em todas as horas de nossas vidas, alegres e tristes, compartilhando conosco cada momento, enternecido pelos laços fraternos que nos uniam. Quando perguntei seu nome, respondeu-me que era aquele que estava no recôndito do meu coração, amparando-me nas horas difíceis e alegrando-se comigo nos momentos felizes.
Despediu-se. Perguntei, então, quando nos veríamos novamente. Sorrindo, respondeu-me que nunca deixaríamos de nos ver,  pois estaria sempre comigo, para mostrar-me o caminho quando ficasse novamente perdido ao longo das alamedas da vida.


Nenhum comentário:

Postar um comentário