quarta-feira, 25 de junho de 2014

Mornas Inquietudes

  

Chove torrencialmente. Na rua transeuntes dispersam-se, o tempo mudou de humor, esbraveja trovoada. Passageiro temporal lava as ruas, chuva brava silencia.
Na calçada, uma mulher desce a ladeira, devagar para não cair. Leva, nas costas, o peso das preocupações impostas pela vida, ao encontro do Boulevard Café, pausa rotineira. Molhada pela chuva, no balcão faz seu pedido, na saborosa inquietude do desejo de degustar um café. Engole como se fosse o último, prazer apreciado aos poucos, assim como inquietudes inevitáveis, entre um e outro gole.
Olhares sutis despertam a cumplicidade. Homens de paladar apurado saboreiam a admiração. Entre os olhares, insinuante aceno. Um breve olhar ensaia a resposta do adeus. No Boulevard Café, o mesmo pedido, diferentes inquietudes, cúmplices olhares e um salutar café.
Na rua, a chuva silenciara. A mulher retoma o trajeto, com o fardo mais leve, deixando as preocupações à mercê do destino. O sol aparece tímido, alguns pássaros cantarolam, ensaiando um fim de tarde poético, de mornas inquietudes na passarela cotidiana da vida.