Numa manhã de
verão de 1940, Esperança, que então tinha sete anos de idade, avistara o mar
pela primeira vez. Fora um encontro inesquecível, cheio de surpresas
agradáveis.
Sob os cômoros de
areia, trilhava deixando pequenas pegadas. A cabeleira crespa esvoaçava, tocada
pelo vento que soprava forte. Sentada na areia, admirava o mar, mergulhando em
seus mistérios. Um olhar curioso, por trás dos olhos graúdos e negros, que mais
pareciam jabuticabas. Vestia um vestido de chita amarela, e calçava sandálias
de couro, surradas pelo tempo, que mal cabiam em seus pés. Franzina, esboçava
um sorriso meigo que emoldurava o rosto com uma expressão angelical.
A menina
viajara com o pai, em uma de suas viagens costumeiras pelo sertão nordestino,
dentro de um pau-de-arara. Estava sendo levada para morar com os tios na
capital, antes, suplicara para conhecer o oceano. Naquele instante
inesquecível, concretizara um sonho pueril.
Recebera do
mar, uma oferenda, uma grande concha rósea, a qual colocara ao lado do ouvido,
tendo a gostosa sensação de ouvir a sinfonia das ondas.