quarta-feira, 7 de março de 2018

Despercebidos





Hoje caminhei pela rota do entardecer. Fazia uma bela tarde, o sol poético tocando prelúdios de primavera. Os pássaros gorjeavam o prenúncio da estação das flores. Na rua ouvia-se, apenas, o farfalhar das folhas secas ao serem pisadas.

Ao caminhar, costeando o rio Guaíba, senti o frescor da brisa batendo em meu rosto, os cabelos esvoaçavam, sentia-me feliz por estar ali. As ondas vagueavam num vaivém faceiro, um sussurro gostoso, convite irrecusável aos ouvidos.

Ensaios fotográficos retratados pela retina. Algumas pessoas aproveitando para pegar sol, passear com o cachorro e reunir-se com os amigos. E aqueles que não abrem mão do tradicional chopinho de fim de tarde à beira do rio, com ingresso gratuito ao espetáculo encenado pelo sol se pondo.

Apurei o passo, no compasso de fim de tarde, fui caminhando até o lugar de sempre, o pórtico. Lugar na medida para apreciar a beleza da natureza interagindo.  Ao longe, veleiros deslizam sob  águas tranquilas. Aos poucos, a tarde vai caindo e o sol se retira do cenário. O entardecer se despede com um beijo cálido.
Sigo o trajeto pelas ruelas solitárias, admirando as casas enfileiradas, lado a lado, com seus contrastes, cores, formas e estilos diferentes.  Cada uma abrigando sonhos, alegrias, tristezas, famílias, ou simplesmente, vidas.

Ignoramos detalhes que passam despercebidos. Deixamos de admirar tantas belezas prendendo-nos a futilidades. Esquecemo-nos de viver, e então, também passamos despercebidos de nós mesmos e dos outros.


(Texto extraído do livro Nós Desfeitos de Nós: Desafios - Iara Ladvig Budelon.)