segunda-feira, 16 de dezembro de 2013

Desapercebidos






Hoje caminhei pela rota do entardecer. Fazia uma bela tarde, um sol de prelúdio de primavera, poético. Os pássaros gorjeavam alegremente, prenuncio da estação das flores. A rua quieta, apenas ouvia-se o farfalhar das folhas ao serem pisadas de  forma vigorosa.
A temperatura estava amena, agradável. Caminhando costeando o rio Guaíba, senti o frescor da brisa batendo no meu rosto, os cabelos esvoaçavam, sentia-me feliz por estar ali. As ondas movimentavam-se astutas, e faziam um gostoso sussurro aos tímpanos.
Os transeuntes caminhavam animados, muitas pessoas aproveitavam para pegar um sol, passear com o cachorro, reunir-se com amigos. Há... E aqueles que não abrem mão de um tradicional choppinho de fim tarde à beira do rio, com ingresso gratuito ao espetáculo encenado pelo sol, que se punha esplendorosamente. Ensaios fotográficos retratados pela retina, perfeito!
Quanta coisa linda para ser admirada. Apurei o passo e no compasso do fim de tarde, fui caminhando até o lugar de sempre, ao pórtico que fica no alto do morro. Lugar na medida, para presenciar a beleza da natureza interagindo com toda sua faceirice. Via-se ao longe, veleiros que desfilavam sua graça, esguios, sob as águas tranquilas, deslizando sonhos.
Aos poucos, a tarde vai caindo, e o sol de mansinho se retira do cenário.  O entardecer se despede com um beijo cálido e morno para um porvir.
E assim, as pessoas seguem para suas casas, encerrando mais um dia, e ficando na expectativa de outro ainda melhor.
Sigo meu trajeto, descontraidamente, e pelas ruelas solitárias, vou admirando as casas, todas enfileiradas, lado a lado, de diferentes contrastes, cores, formas e estilos. Que abrigam sonhos, realidades, alegrias, tristezas, famílias, ermitões ou simplesmente, vidas.
Vidas que buscam no cotidiano, o revolver das palavras, ações, sentimentos, viver da melhor forma e garimpar ideais, objetivos, focos, metas, ou meramente sonhos.
E assim todos os dias, com as bênçãos plenas da natureza que em silêncio assiste a rotina diária, interagindo e regando os dias com bom humor. E nada como um dia atrás do outro para nos mostrar que vale a pena contrastar com este cenário absoluto, dividirmos espaço, com tudo que nos cerca além daquilo que possuímos, pois a beleza maior está naquilo em que não podemos pagar e comprar. É uma relíquia que pertence a todos, não tem preço, não custa nada, apenas o prazer de admirar!
E na solitude, sigo em frente, admirando tudo, em detalhes. Anoitece, e chego em casa com a sensação de “quero mais”.No ensejo gostoso de saber que no outro dia, farei a mesma coisa, seguirei o mesmo trajeto, mas com certeza, adentrarei em cenários diferentes, e coisas novas “apreenderei” em minha retina. 
Muitas vezes, não nos damos conta quantos detalhes nos passam pela vida a fora, despercebidos do nosso olhar. Deixamos de admirar tantas coisas bonitas para nos perdermos em coisas fúteis, aí esquecemos de viver, e então passamos também a ficarmos despercebidos de nós mesmos e dos outros.

                                                                Iara Ladvig

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