sexta-feira, 13 de dezembro de 2013

Retratos existenciais: A descoberta na singularidade

No começo, somos apenas uma existência singular na descoberta do mundo, literalmente caindo e levantando-se, engatinhando e aprendendo a andar, e a descobrir em seus pormenores, todo o enredo de uma história fantástica: A VIDA.
Extrapolando o lúdico, as fantasias e saboreando-as na textura delicada, uma criança cresce “apreendendo” tudo a sua volta. Vai registrando os fatos, fotografando-os em sua mente curiosa, como flashback de situações inesquecíveis, lépidas, inóspitas..., e vai montando um quebra-cabeça que facilmente vai se encaixando, à medida que vai tomando conhecimento de formas, cores, dimensão e consequentemente, elaborando sua trajetória.
Através do contato tão particular entre o mundo imaginário e real, vai expressando seus gostos e preferências, e estabelecendo pelo tato, paladar, olfato, visão e audição, uma conexão de informações, e imergindo na percepção, detém a soberania do seu mundinho.
Constrói suas verdades, fabrica medos, liberta-se na imaginação, cria seus fantasmas, adota mimos como pedrinhas, flores, chupetas, travesseiros, objetos obsoletos como um talismã. Agarra-se neles para fugir do temido “bicho papão” ou o “velho do saco”. (Quem já não teve um travesseiro com penas de ganso na infância?). Tão fofinho e indivisível.
A criança vai criando seus mitos, e adotando uma postura de respeito e medo para com eles. Muitas vezes, zomba, ri, mas corre de medo do desconhecido. Esta é a beleza reverenciada na infância, a pureza da alma, ainda não contaminada com os “ditames” impuros das chagas do caráter.
Na infância somos protagonistas de nossas próprias histórias: de princesas, dragões, cavalheiros e fadas. Isto faz com que tenhamos capacidade para elaborar dentro do processo de desenvolvimento biopsicossocial, a própria identidade, continuando a ser o protagonista na realidade, com o livre-arbítrio para fazer escolhas e enfrentar os bichos papões que porventura apareçam.
A formação do caráter está ligada à herança genética e a personalidade, capacidade individual que trazemos conosco de conseguirmos perceber a vida, com limites a serem administrados de uma forma que não venham a prejudicar os outros, em uma conotação sadia de desenvolvimento psicológico e social. Saímos então da singularidade para “apreendermos” a capacidade de convivência mútua, ou seja, viver na pluralidade de gostos e escolhas, sabendo respeitar também, as escolhas e decisões alheias. Este processo inicia-se na infância, e precisa ser bem trabalhado e observado pelos pais e educadores, para que a criança consiga resolver suas dificuldades de convivência social já na tenra idade. Assim inicia o desenvolvimento das habilidades pessoais, aprofundadas no âmago do bom senso e usadas como limitadores do certo e errado nas ações, favorecendo as mudanças de atitudes e facilitando a condução sadia das relações sociais em todos os âmbitos: consigo mesmo, pais, filhos, cônjuge, amigos e profissionalmente, tendo um bom domínio existencial.
O indivíduo se conhece na singularidade, conseguindo ter percepção de si mesmo, se estiver apto para fazer a leitura da sua história, e deixar-se ver no espelho íntimo quem realmente é. Admitindo-se em qualidades e defeitos, buscando melhorar a qualidade de seus pensamentos, palavras e ações. Estes são os primeiros passos para conseguir um “entendimento” do eu e modificar-se na íntegra, ou seja, por inteiro. Mesmo que a modificação seja de uma forma fracionada, aos poucos, o importante é que um dia, ela consiga a ser “plena” em todas as questões pertinentes que necessitem serem modificadas.
E no teatro da vida, arena das emoções, dar aquele “Show de QE” nas agruras cotidianas, naqueles momentos que as pessoas acham que Deus os esqueceu. Esquecem que Deus não os esquece. Mas nos permite lembrar, mesmo contraditoriamente, que esquecemos de desatar nossos nós íntimos que nos fazem “melindrosos” para viver, e egoisticamente nos tornamos omissos a nós mesmos. Perdemos a cumplicidade conosco, para modificar a forma de percebermos a realidade, sem confrontá-la com os desejos íntimos, muitas vezes, “subversivos” e aquém as expectativas de crescimento interior, do uso do bom senso, do amadurecimento emocional e espiritual.
Somos dotados de inteligência qualitativa, por que não usá-la? O valor imensurável desta “energia vital” das emoções é que nos permite transformá-la em “qualidade de vida”, extraindo a mais pura essência da nossa alma, conduzindo a busca equilibrada das inspirações e objetivos, sabendo dosá-los em meio de infortúnios, afinal a vida é isto, intempéries. O tempo muda de repente, horas de sol, momentos de tempestade. E, às vezes, nubla, e te faz repensar, em tudo de novo! Recomeço. Todo dia é dia de recomeçar.
Vamos abrir uma caixa de “esperanças”, conscientes de que somos privilegiados para construirmos de forma altruísta e equilibrada, dias melhores, sem nos preocuparmos em demasia com o futuro, mas vivermos plenamente o nosso presente e estarmos dispostos a fazer a diferença em pensamentos, palavras e ações, executando-as plenamente, de bem com a VIDA.
A VIDA é um tesouro, que nos proporciona uma escola, aprendizado constante. São muitas descobertas, porém devemos evitar abrir todos os “baús” que nos apresentam, a fim de que, na curiosidade e inconsequência, deixemos nos envolver por coisas que não nos acrescentam, mas definham as emoções e fazem adoecer a alma. Pessoas e situações em declínio, onde há ruína de bons sentimentos, sensatez, amor, amizade, bondade... Vazias.
Ser sábios, prudentes, cautelosos faz parte de uma longa jornada, uma lição que devemos aprender na infância e jamais esquecê-la, pois poderá nos custar um infortúnio, por isso, estar sempre atento com quem se escolhe para ser parceiro (a) de jornada. Isto é válido em todos os sentidos: na amizade, amor e na profissão. Freud já dizia: “O caráter de um homem é formado pelas pessoas que escolheu para conviver”.
Vamos abrir nossas “caixinhas”, que são as diversas situações que a vida nos apresenta, sempre com bom senso, a fim que não tenhamos nossa retina ofuscada por um falso brilho.
Apreender as situações com um “olhar desperto”, pés no chão, e percebermos o que é melhor para nós, sempre distinguindo o bem do mal, vislumbrar a realidade tal como ela é, sem deixar-se engolir por devaneios, ilusão ou pelos subterfúgios da carência afetiva.

                                                                                  Iara Ladvig
                                                                                       

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